sábado, 28 de março de 2009

E então, se identificou?

A psicologia do esporte busca estudar todos os aspectos emocionais que influenciam o rendimento do atleta, bem como o efeito do esporte e do exercício físico sobre a área emocional do seu praticante. São duas as vias de pensamento e por elas podemos analisar esses eventos desafiantes que são as competições de ultra-resistência, em que limites humanos são testados à exaustão. O que leva uma pessoa a buscar um duelo com ela mesma? Embora alguns autores possam examinar esses eventos extremos como uma auto-agressão, "acusando" o atleta de procurar sofrimento, isso é um direito que a pessoa tem de trilhar o caminho escolhido.
Tenho treinado psicologicamente muitos atletas para competições similares e conheço seu funcionamento. Uma pessoa que busca algo é porque necessita, e uma das respostas pode ser biológica (que afeta a psicológica). O forte e prolongado exercício pode ativar o sistema central de opióides, originado pelo aumento de endorfinas - substância natural produzida pelo cérebro em resposta à atividade física, que relaxa, preserva a dor e dá enorme prazer. As investigações evidenciam que a endorfina é um anestésico e muitos dos efeitos cardiovasculares e comportamentais são mediados por esse mecanismo. Mas sabemos muito pouco sobre esse opiácio. A adrenalina é outro fator que aparece em grandes desafios. Há várias pessoas que não podem viver bem sem ela. E a buscam não só no esporte, mas em todas as atividades humanas.
Na esfera psicológica há alguns fatores evidentes:
a) estado de consciência alterado, causado pelo exercício (a própria endorfina pode ter uma parte de culpa nesse estado de consciência).
b) apoio social, que são os ganhos em notoriedade (mídia), admiração de fãs, amigos, família e colegas, que causa um aumento na auto-estima do atleta;
c) auto-eficácia, onde a melhora da aptidão física do atleta dá uma sensação de domínio de seu mundo, segurança e auto-estima.
Para finalizar, no aspecto psicológico eu apontaria três fatores determinantes para a participação do atleta numa competição limite como essas: auto-estima, motivação e capacidade de suportar a dor. Haverá alguma prova maior e mais dolorosa que essas? É provável que alguém já esteja pensando em criar uma nova.
Entretanto, é possível que outros não-atletas também possam enfrentar competições de igual sofrimento, que é sua própria vida. E, a cada manhã, despertam motivados para enfrentar a sua carga diária, sem direito a manchete na mídia.
Por Benno Becker Jr. doutor em Psicologia.

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