sábado, 18 de julho de 2009

Por dentro da Aventura

Não satisfeitos em completar uma maratona, o ser humano foi além e inventou a ultramaratona. Ainda não satisfeito, inventou o ironman e logo sua versão cross country, veio entaum o conceito multisporte. Já não bastava o atleta dominar uma disciplina, mas várias. As provas de multiesporte ainda traziam o conceito de alto rendimento. A aventura veio para completar um campo entre o rendimento e o lazer. É um esporte caríssimo, é verdade. Quando vamos viajar, temos que levar uma tanta buginganga junto que mais parece uma mudança. Mas o que mais traz atletas para o ambiente da aventura é o conhecimento multidisciplinar; um esporte altamente estratégico e inteligente, e acima de tudo, autosuficiente. Apura o atleta fisica e mentalmente.
E para competir com os esportes olímpicos pela mídia, tras apelos sociais, ambientais e culturais. Mas cada um descobre de alguma forma sua paixão ou atração nesses esportes. Um esporte que tras como perfil dos participantes, pessoas mais maduras e estabilizadas financeiramente. Campeões mundiais neste esporte possuem mais de 40 anos, como foi o caso de Ian Adamsom eRobin Benincasa, que marcaram a primeira geração dos atletas de aventura em corridas cruéis como o Eco-challenge. Paul Romero, e no Brasil José Pupo, vem confirmar esse perfil.
O conceito de corrida de quartetos mistos, trabalho em equipe, superação de desafios, surgimento natural de lideranças, vai de acordo com filosofias modernas e até comportamento empresarial.
Como o Ironman, surgiram grande, em formatos, praticamente impossíveis para pessoas comuns, corridas expedicionárias, sem apoio, que desafiavam a sobrevivência dos participantes. Devido ao sucesso, hoje são realizadas em formatos mais adequados ao dia-a-dia de seus praticantes, em corridas curtas de poucas horas a um final de semana. Para encarar a corrida, o praticante tem que ter noções de primeiros socorros, trekking, mountain bike, canoagem, técnicas verticais, orientação e navegação terrestre,entre outras.

domingo, 12 de julho de 2009

Uma questão de estilo

A escalada tem dois grandes estilos, que muitas vezes se fundem, o estilo livre e a ascensão artificial.
Com movimentos precisos e equilíbrio a escalada livre desenvolve o contato do corpo e rocha. Muito diferente da escalada artificial leva em conta o perigo que determinado trecho representa para o guia.
Fatores como qualidade da proteção e da rocha, equipamento disponível, fator de queda e possibilidade de aterrissagem, são o que contam. Então, o que diferencia um A1 de um A5 é que se você cair num A1 não vai se machucar, mas se cair no final de uma enfiada de A5, vai morrer. Parece insano, mas a ética e o comprometimento são diferentes nas grandes paredes, e isso tem que ser respeitado, quando levamos em conta que nosso esporte busca não só o desenvolvimento físico, mas também o psicológico. Caso contrário, as vias em artificial seriam todas iguais: seria apenas uma subida de degrau em degrau. Então a opção por não grampear uma enfiada de A5, transformando-a num A3 ou menos, é um jogo no qual o guia busca seu limite psicológico.

Lógico que perigo é subjetivo e também depende do preparo, perícia e conhecimento do escalador. Para quem não está acostumado com a sensação de insegurança que muitas peças transmitem - ou ainda não possui o devido conhecimento, e se falando em graduação técnica, um A3 pode parecer tão mortal quanto um A5. E acredito que pode até via a ser, na medida em que o grau é aferido por escaladores que possuem o conhecimento técnico e dominam a engenharia das colocações difíceis e criativas. Portanto, um escalador bem preparado e experiente, conseguirá se proteger muito melhor que um novato na mesma enfiada. Por esta razão, é que é importante se preparar e adquirir conhecimento antes de entrar em rotas que mesmo de nível médio (até A3), podem virar um pesadelo para quem não tem a devida técnica e preparo psicológico.

Veja como funciona a graduação em progressão artificial:
A0: Pontos de apoio sólidos ("à prova de bomba") isolados ou em uma curta
Seqüência, com pouca exposição; pêndulos; uso da proteção para equilíbrio ou
descanso; e tensionamento da corda para auxílio na progressão;
A1: Peças fixas ou colocações sólidas de material móvel, todas elas fáceis e
seguras, em uma seqüência razoavelmente longa;
A2: Colocações de material móvel geralmente sólidas, porém mais difíceis. Algumas colocações podem não ser sólidas, mas estarão logo acima de uma boa peça. Não há quedas perigosas.
A2+: Como o A2, mas com possibilidade de mais colocações ruins acima de uma boa. Potencial de queda aproximado de 6 a 9 metros, mas sem atingir platôs. Pode ser necessária uma certa experiência para encontrar a trajetória correta da escalada.
A3: Artificial difícil. Possui várias colocações frágeis em seqüência, com poucas proteções sólidas. O potencial de queda é de até 15 metros, equivalente ao arrancamento de 6 a 8 peças, mas geralmente não causa acidentes graves. Geralmente são necessárias várias horas para guiar uma enfiada, devido à complexidade das colocações.
A3+: Como o A3, mas com maior potencial de quedas perigosas. Colocações
frágeis, como cliffs de agarra em arestas em decomposição, depois de longos
trechos com proteções que agüentam somente o peso do corpo. É comum que
escaladores experientes levem mais de três horas para guiar uma enfiada.
A4: Escaladas muito perigosas. Quedas potenciais de 18 a 30 metros, com perigo de se atingir platôs ou lacas de pedra. Peças que agüentam somente o peso do corpo.
A4+: Como o A4, mas são necessárias várias horas para cada enfiada de corda. Cada movimento do escalador deve ser calculado para que a peça onde ele se encontra não seja arrancada apenas com o peso do seu corpo. Longos períodos de pressão psicológica.
A5: Este é o extremo, sob o ponto de vista técnico e psicológico. Nenhuma das
peças colocadas em toda a enfiada é capaz de segurar mais do que o peso do
corpo, quando muito. As enfiadas não podem possuir proteções fixas nem buracos de cliff.

O que não está escrito nos livros
Não importa o tipo de peça que você use para ascender. Para determinar o grau, interessa apenas o perigo. Portanto, uma enfiada com alguns cliffs e nuts “potencia” pode ser muito menos perigosa do que outra que tenha alguns rebites no meio de seqüências de friends ou pitons em rocha ruim.
É importante deixar claro que uma enfiada de A5 começa com um A1, depois A2... e mantendo a má proteção, até que no final, aos 50m, a queda fique tão perigosa que seja fatal.
Outra questão que deve ser notada é a de que vias em artificial são vias mutantes. Um A5 depois de algumas repetições pode se transformar em A4+ depois A4 ou até menos, por motivo da quebra de agarras de cliff (forçando furar buracos), expansão de lacas na qual eram instalados heads, alargamento de fendas onde se pitonava rurps e depois se consegue instalar um lost arrow... e por aí vai. Em Yosemite, costuma-se dizer que depois de 30 repetições é muito provável que um A5 se transforme em em A3.

Novos equipamentos, mais resistente ou que possibilitem uma proteção melhor, podem fazer com que o grau de uma enfiada também seja decotado (rebaixado).
Uma prática que visa preservar o grau é a técnica clean, onde a instalação de pitons com martelo é proibida. Pode-se apenas encaixar os pitons. Aí o grau, passa a ser o C, de clean, mas a maneira de graduar permanece a mesma: C1, C2... Uma enfiada possível de ser escalada clean se for pitonada cairá de grau. Na foto acima, o montanhista Wagner Pahl escala clean a primeira enfiada da rota Zodiac no El Capitan. Esta enfiada pode ser graduada em A2+ ou C3.
Como o assunto é extenso e as variantes e possibilidades infinitas, este post tenta dar uma luz apenas aos montanhistas que tem dúvidas a respeito desta graduação.
Eliseu Frechou

Extremaventura

Informações da segunda etapa do Sul Brasileiro, que será realizada pela Extremaventura
Prudentópolis, terra das cachoeiras gigantes, será sede da segunda etapa do Circuito Sul Brasileiro de Corridas de Aventura 2009. A primeira prova da temporada foi realizada no dia 17 de março no Rio Grande do Sul, na cidade de Nova Petrópolis. A etapa paranaense acontecerá no dia 01 de agosto, em Prudentópolis e será disputada aos pés da Serra da Esperança, entre o segundo e o terceiro planalto do Paraná.
"Com objetivo de realizar um evento de alto nível técnico como sede do Sul Brasileiro de Corridas de Aventura, escolhi Prudentópolis por três motivos: relevo, estrutura e apoio local. O levantamento de campo para prova começou em maio e antes da primeira quinzena de junho o roteiro já estava traçado. Para o levantamento de campo coloquei uma meta: encontrar locais pouco explorados e que apresentassem um cenário marcante a todos os competidores. O resultado desta procura superou minha expectativa e hoje estou orgulhoso e muito feliz com a competição que será entregue no dia 01/08", comentou Julio Camargo, diretor da prova.
A largada e a chegada serão no mesmo local para todas as categorias. Não haverá necessidade de levar a bicicleta em nenhum ponto antes da partida. Para a categoria Expedição, a prova será marcada pelo alto grau técnico exigido no ciclismo, que passará por caminhos carroçáveis em meio a Serra da Esperança. Nesta modalidade o desnível será constante e como o terreno de Prudentópolis é muito técnico, com solo argiloso e pedra, será necessário muito controle na bicicleta.
O trajeto em comum para todas as categorias será a parte mais bonita da prova. Destaques especiais para a canoagem, que será em um rio com margens bem conservadas e a caminhada. E será na caminhada que os competidores se depararão com os mais bonitos visuais da prova. Este percurso começará em cima de um cânion. Descerá seus mais de 100 metros e passará por duas cachoeiras gigantes. Para alcançar a trilha do outro lado do rio, será necessário atravessá-lo a nado. Serão aproximadamente 30 metros de uma margem a outra. A subida da escarpa pelo outro lado cânion desvendará toda a beleza do local. Formando diversas chapadas, o cânion mostrará um belíssimo visual até o horizonte. A caminhada continuará por mais duas cachoeiras gigantes e em uma delas será realizado o cachoeirismo (rapel de cachoeira). Para retornar ao local onde foram deixadas as bicicletas, mais uma travessia de natação de 40 metros e uma trilha de pescador bem técnica.

As inscrições estão abertas e vão até o dia 24 de julho e os interessados poderão se inscrever nas categorias Pró (Quarteto Misto) ou Expedição (Duplas), ao valor de R$ 100,00 (cem reais), na Categoria Aventura (Duplas e Solo), R$ 80,00 (oitenta reais) e Estreante (Solo), R$ 50,00 (cinqüenta reais) por atleta. Poderá ser feita pelo site do evento (www.extremaventura.com.br) ou em Curitiba nas lojas Território do centro (Rua Carlos de Carvalho, nº 180) ou do Shopping Palladium (Av.Presidente Kennedy,4121, piso L2).
"Agradeço a todos que participaram da pesquisa e me ajudaram no roteiro da prova. Agradecimentos especiais ao Rodrigo e ao Marcão (dog), guias locais, ao Fábio (cinegrafista da prova), ao Marcelo, Jemerson (Même), Eriton e ao Luiz, secretários municipais que estão dando a maior força ao evento, sem esquecer na Território, que patrocinando o Circuito oferece as condições necessárias para que a Extremaventura continue realizando as provas."

terça-feira, 7 de julho de 2009

RAAM - Road Across America

Após 11 dias, 17 horas e oito minutos de pedal, a carioca Daniela Genovesi, de 41 anos, entrou para a história do esporte nacional ao vencer a Race Across America, uma ultra maratona que cruza os Estados Unidos de Oceanside na Califórnia até Annapolis em Maryland em um total de 4800 km de ciclismo de estrada.
Dani conquistou a vaga para a RAAM no Desafio 24 Horas de Fortaleza, foi a primeira latina-americana a chegar lá e de cara venceu a prova.
Tem mais, há dois anos que nenhuma mulher conseguia completar a prova no prazo máximo de doze dias.
Até o oitavo dia a americana Janet Christiansen estava na frente, mas a estratégia de imposta a Dani por sua equipe foi dormir 4 horas por noite, enquanto que a americana dormia apenas quando já não suportava mais pedalar. Assim, Janet abriu boa distância no começo, mas com o cansaço acumulado, a brasileira foi encostando até passá-la por duas vezes.
Foi a maior emoção da minha vida no esporte. Foi uma emoção muito forte vencer esta prova tendo ao lado a minha família e os meus amigos, que vieram acompanhar a chegada. Tenho de agradecer muito a minha equipe, pois sem ela eu não teria conseguido”, disse Dani Genovesi, que na chegada chorou ao receber os abraços do marido Alexandre, do filho Victor, de 18 anos (que chegou de surpresa) e Julia, de 16 anos, que integrou a equipe e foi a responsável por preparar toda a alimentação da mãe.

Dani chegou a duvidar de sua capacidade de terminar a prova.

Comecei a sentir muitas dores nos dois joelhos, que ficaram inchados. Na TS 50 (posto de controle 50), dormi por duas horas, tomei antiinflamatórios e as dores diminuíram, mas por um momento eu pensei que o corpo poderia dizer não, mas deu tudo certo.
Eu que a conheço bem, fico com os olhos marejados de água de imaginar a emoção dessa carioca, que é mountain biker, remadora e adora uma corrida de aventura. Emoção dela e minha também, queria ter estado lá na chegada.
O corpo de Janet começou a dizer não lá pelo oitavo dia. Foi quando Dani teve certeza de que a estratégia de sua equipe fora perfeita.
Eu a ultrapassei à noite e parei para dormir. E ao começar o dia seguinte pensei que iria levar umas seis horas para tirar a diferença novamente. Porém, com vinte minutos de pedalada, eu já estava passando por ela, como um furacão. Deu até pena dela, pois ela estava sofrendo. Pensei, caramba, ela ainda vai sofrer por tantos quilômetros.
Janet Christiansen finalizou em segundo, com 12 dias, 3 horas e 54 minutos, quase 11 horas depois da brasileira. Segundo ela, "Daniela fez essa corrida muito interessante para mim, ela pressionou a mim e ao meu time, e isso é bom, a real é que eu gostei. No oitavo dia ela passou por mim como se estivesse indo para um passeio de bike de um único dia!"
O santista Claudio Clarindo completou pela segunda vez a RAAM desta vez em sétimo lugar com o tempo de 10 dias, 22 horas e 25 minutos.